A dialética Fichteana/Hegeliana
O Método Dialético, frequentemente referido apenas como Dialética, é uma forma de
discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista
sobre um mesmo assunto, mas que pretendem estabelecer a verdade através de
argumentos fundamentados e não simplesmente vencer um debate ou persuadir o
opositor. Embora o ato em si seja fundamental na formação da filosofia, o termo
foi popularizado apenas com o advento dos diálogos socráticos de Platão.
Para estabelecer a dialética, Sócrates encontrou
na Verdade o maior valor, propondo que a verdade poderia ser descoberta através
da razão e lógica numa discussão. Desta forma, Sócrates opôs-se à retórica
como forma de arte que visa agradar os ouvintes e também a oratória, que
convence por vias emocionais, não requerendo lógica ou prova.
O propósito do método dialético é resolver os
desacordos através de discussões racionais, e, em ultima análise, a busca pela
verdade. A forma herdada de Sócrates para proceder a tal discussão é mostrar que
uma dada hipótese leva a contradições, então, forçar a retirada da hipótese
como candidata a verdade.
Desta forma, teríamos de encontrar outra candidata à verdade, para verificar se esta também estaria comprometida com uma
contradição, de tal forma que pudesse ser eliminada. A hipótese "candidata à verdade" que por todos os meios não pudesse ser refutada, manter-se-ia como tal.
Este proceder, herdado de Sócrates, levou Aristóteles a afirmar que a dialética é a lógica do
provável, daquilo que parece aceitável a todos ou à maioria, mesmo quando não
se pode demonstrar, já que exige apenas que não seja possível eliminar a hipótese candidata à verdade.
Na mesma linha de análise que Aristóteles, Immanuel Kant avaliou a dialética como nada mais que uma ilusão, tratando-se do
que chamou de "lógica das aparências", por basear-se em aspectos
subjetivos, recusando a explicação causal da realidade.
A forma mais comum atualmente utilizada é a que
foi apresentada por Johann Gottlieb Fichte, também adotada por Georg Wilhelm
Friedrich Hegel, que consiste em abordar a questão a ser discutida na forma de
tese e antítese, com o objetivo de chegar-se à transcendência de ambas, na
síntese, que seria uma terceira tese.
Segundo estes autores, o objetivo da
dialética não seria interpretar a realidade, mas refleti-la.
A dialética Fichteana/Hegeliana é baseada em
quatro conceitos:
- Tudo existe num tempo médio, ou seja, tudo é finito e
transitório;
- Tudo é composto de contradições – a palavra
"contradição" é por vezes reinterpretada pelos alguns estudiosos
como "forças opositoras";
- Mudanças graduais levam a crises, Fichte sugere uma
estratégia que consiste em mudar o ponto defendido quando uma força
sobrepõe sua força opositora – a ideia é que mudanças quantitativas levam
a mudanças qualitativas;
- A mudança é espiral (sobreposição) e não circular – não
se trata apenas de um caso de negação da negação, mas a sublimação.
Para além de Sócrates e Fichte, o conceito de
dialética esteve presente na filosofia de Heráclito, conhecido por propor que
tudo se encontra em constante mudança, de tal forma que a história do método dialético
se confunde com a história da filosofia.
No século XX, a receptividade da dialética,
especialmente a dialética de Fichte, afastou a filosofia anglo-saxónica daquela chamada "continental", referindo-se particularmente aos
filósofos do continente europeu.
Na Europa a dialética tem um papel
fundamental na estrutura filosófica, enquanto na Grã-Bretanha e Estados Unidos
a dialética não possui um papel claro na filosofia, sendo o positivismo mais relevante. Alguns filósofos
como Karl Popper dedicaram-se a mostrar que a dialética levava à aceitação da
contradição.
Referências bibliográficas:
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do espírito. (tradução Paulo Meneses). 5º ed. Petrópolis: Vozes. 2008.
Kant, Immanuel: Crítica da Razão Pura, tradução de Manuela Pinto do Santos e
Alexandre Fradique Morujão, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 2001
Politzer, Georges (1979). Princípios
Elementares de Filosofia 9 ed. Prelo.
REALE, Giovanni. Historia da filosofia
do romantismo até nossos dias. 3v. 8º ed. São Paulo: Paulus, 2007.
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